Justiça

STF prende presidente da Alerj por vazamento a facção criminosa e obstrução de operação policial

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STF prende presidente da Alerj por vazamento a facção criminosa e obstrução de operação policial

Na manhã de quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, Rodrigo da Silva Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi preso preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, decorrente da Operação Unha e CarneRio de Janeiro, o acusa de integrar uma organização criminosa e de obstruir a Operação ZargunRio de Janeiro, que mirava o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias. A prisão foi imediata, e Bacellar foi afastado do cargo — um dos mais poderosos do Estado. O caso, registrado no processo PET 14969/RJ, revela uma rede de corrupção que une políticos, facções criminosas e informações sigilosas da Polícia Federal. E não é só uma questão de crime: é uma quebra de confiança no próprio Estado.

Como um presidente da Alerj se tornou um alvo da PF?

A Polícia Federal encontrou mensagens entre TH Joias e Bacellar que deixam poucas dúvidas sobre o envolvimento deste último. O ex-deputado, preso desde 3 de setembro de 2025, chamou Bacellar de “01” em conversas, informando que havia trocado de celular. Bacellar respondeu com uma figurinha — um gesto que a PF considerou uma confirmação silenciosa. O mais grave? Ele teria orientado TH Joias a remover objetos da mansão antes da operação policial. Isso frustrou a apreensão de equipamentos antidrones, armas e documentos que poderiam ligar a facção Comando Vermelho a uma rede de corrupção dentro do poder público. A PF aponta que Bacellar tinha conhecimento prévio da operação, algo que só um integrante da estrutura estatal poderia ter. O ministro Moraes foi direto: “Toda essa movimentação descortina a existência de um verdadeiro estado paralelo”.

Os bastidores da Operação Zargun e a teia de proteção

TH Joias já tinha passagem pela prisão entre 2017 e 2018, por ligações com o Comando Vermelho. Desde então, segundo a PF, manteve contato constante com “contatos estratégicos”, incluindo o presidente da Alerj. O que surpreendeu os investigadores não foi apenas a troca de mensagens, mas o nível de detalhe: ele enviou fotos de agentes da PF entrando em sua casa, como se quisesse provar que tinha acesso a informações internas. Bacellar, em depoimento ao Fantástico, disse que ficou “surpreso” com as imagens. Mas a PF não acredita. “Se ele não soubesse, por que teria orientado a remoção de objetos?”, questiona o relatório. A defesa de Bacellar insiste que ele não teve acesso a dados sigilosos e que as mensagens foram interpretadas de forma tendenciosa. Mas o que pesa é o timing: tudo aconteceu minutos antes da operação. E o fato de TH Joias ter sido preso e mantido por dez meses em 2017 — e ainda assim ter conseguido reorganizar sua rede — mostra que a proteção política não é nova.

Um precedente sombrio: 2017 se repete

Bacellar é o quinto presidente da Alerj a ser preso desde a redemocratização. O último caso foi em 2017, quando Jorge Picciani (MDB), então presidente da Casa, foi detido por receber propinas de empresas de jogos ilegais. Na época, Picciani, junto com Paulo Melo e Edson Albertassi, foi solto pela própria Alerj — um ato que gerou revolta nacional. Agora, quase oito anos depois, a mesma Casa enfrenta um novo escândalo. E desta vez, o crime não é só de corrupção: é de traição ao Estado. A diferença? Naquela época, o foco era dinheiro. Agora, o foco é vida. O Comando Vermelho, que já controla favelas e cadeias, agora parece ter aliados dentro do poder legislativo. Isso muda tudo.

O que acontece agora?

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj adiou para segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, às 11h, a decisão sobre a manutenção da prisão de Bacellar. Enquanto isso, o presidente da Casa foi substituído interinamente por um vice. A defesa de Bacellar já anunciou que vai recorrer ao STF, alegando violação de direitos. Mas o ministro Moraes, conhecido por sua linha dura contra a corrupção, não parece disposto a recuar. Ainda há um ponto nebuloso: a defesa de TH Joias afirma que não teve acesso ao processo. Isso pode atrasar a defesa, mas não apaga as mensagens. E nem a evidência digital que conecta um político de alto escalão a um criminoso que negociava armas para facções.

Por que isso importa para o cidadão comum?

Por que isso importa para o cidadão comum?

Porque quando um presidente da Alerj vaza informações de operações policiais, ele não está só protegendo um deputado. Ele está protegendo traficantes que controlam bairros inteiros. Ele está facilitando a entrada de armas em comunidades já saturadas de violência. Ele está minando a credibilidade de agentes que arriscam a vida para combater o crime. E o pior: ele está dizendo, com ações, que o poder público é um negócio privado — e que a lei serve apenas para quem não tem proteção. A população do Rio de Janeiro já vive sob o peso da violência. Agora, descobre que quem deveria protegê-la está colaborando com seus inimigos. Isso não é apenas um escândalo político. É uma ameaça à segurança pública.

As próximas etapas

Ainda não se sabe se Bacellar será indiciado por crimes de organização criminosa, corrupção ativa ou obstrução de justiça. Mas a PF já está investigando outras ligações entre parlamentares e integrantes do Comando Vermelho. Há indícios de que outros membros da Alerj podem ter recebido informações privilegiadas. A Procuradoria-Geral da República já pediu a abertura de uma nova investigação para apurar “influência política no tráfico de drogas”. Enquanto isso, TH Joias permanece preso na Penitenciária de Bangu, na Estrada Intendente Marçal, sob custódia rígida. A Justiça ainda não decidiu se ele será transferido para um presídio federal — o que poderia acelerar seu julgamento.

Frequently Asked Questions

Como foi comprovado que Bacellar vazou informações da Operação Zargun?

A Polícia Federal encontrou mensagens de texto entre Bacellar e TH Joias, em que o ex-deputado informou ter trocado de celular e chamou Bacellar de “01”. A resposta de Bacellar, uma figurinha, foi interpretada como confirmação. Além disso, a PF comprovou que objetos de valor foram removidos da casa de TH Joias minutos antes da operação — algo que só alguém com acesso a informações sigilosas poderia orientar. O timing e o conteúdo das mensagens formam um padrão inequívoco.

Qual o papel do Comando Vermelho nesse caso?

O Comando Vermelho é a principal facção criminosa envolvida. TH Joias era acusado de negociar armas, adquirir equipamentos antidrones e lavar dinheiro em favor da organização. A PF acredita que Bacellar, ao obstruir a operação, ajudou a manter a estrutura de poder da facção no Rio. Isso significa que, além de corrupção, há um risco direto à segurança pública: grupos criminosos estão sendo protegidos por quem deveria combate-los.

Por que a Alerj adiou a decisão sobre a prisão de Bacellar?

A CCJ da Alerj adiou a reunião para garantir mais tempo de análise jurídica, dada a complexidade do caso e o impacto político. Além disso, há pressão de deputados que temem uma ruptura institucional. A decisão final sobre a manutenção da prisão dependerá da análise da constitucionalidade do afastamento e da gravidade das acusações, que vão além do comum em casos de corrupção.

Existe risco de mais prisões na Alerj?

Sim. A PF já indicou que há “intensa troca de mensagens” entre TH Joias e outros contatos estratégicos, sugerindo que a rede de proteção pode ser maior. A Procuradoria-Geral da República já pediu investigações sobre possíveis influências políticas no tráfico de drogas. É possível que outros parlamentares sejam indiciados nos próximos meses, especialmente se forem encontradas mensagens semelhantes.

O que mudou desde o escândalo de 2017 com Jorge Picciani?

Em 2017, o foco era corrupção em licitações de jogos ilegais. Agora, o crime é mais grave: envolve obstrução de operações policiais contra facções armadas, tráfico de armas e proteção a criminosos violentos. Além disso, o STF, sob Moraes, atua com muito mais rigor. A sociedade também está mais atenta — e menos disposta a aceitar que políticos sejam “soltos pela Casa” como se fosse um privilégio.

A defesa de Bacellar tem chance de reverter a prisão?

A defesa pode recorrer ao STF, mas as chances são baixas. Moraes já considerou as provas “fortes e consistentes”, e a obstrução de operação policial contra facções criminosas é um crime considerado grave pela Justiça brasileira. Mesmo que não haja prova direta de que Bacellar recebeu dinheiro, o simples ato de facilitar a fuga de um criminoso com ligações ao Comando Vermelho é suficiente para manter a prisão preventiva.