Cessar-fogo entre Israel e Hamas: ruptura em 18/03/2025 e dúvidas sobre colaboracionistas

Quando o Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos apresentou ao mundo o plano de cessar-fogo em maio de 2024, poucos imaginavam que ele seria testado apenas um ano depois. O acordo, mediado pelos EUA, Egito e Catar, prometia libertar todos os reféns israelenses em troca de centenas de palestinos presos, retirar as forças israelenses da Faixa de Gaza e iniciar um processo de reconstrução de três a cinco anos.
O cessar-fogo entre Israel e HamasFaixa de Gaza entrou em vigor em 19 de janeiro de 2025, marcando o fim de uma fase de bombardeios intensos que durou quase dois anos. Em oito rodadas de troca de prisioneiros – a primeira em 22 de janeiro e a última em 12 de março – quase 2.300 israelenses e cerca de 4.500 palestinos foram libertados, segundo relatório da Nações Unidas.
Contexto histórico do conflito
Para entender por que o acordo parecia tão frágil, é preciso voltar à primavera de 2023, quando o Hamas lançou a Operação Al‑Aqsa, desencadeando a invasão terrestre de Israel e uma série de bombardeios aéreos sobre Gaza. Desde então, a região vivia um ciclo de escalada e tentativas de pausa humanitária, mas sem sucesso duradouro.
O presidente de facto do Hamas, Ismail Haniyeh, sempre defendia a ideia de que a resistência armada seria o único caminho para garantir a soberania palestina. Essa postura dificultou a aceitação de acordos que não previam a destruição completa da infraestrutura militar de Gaza.
Detalhes do cessar-fogo de 2025
O documento assinado em 17 de janeiro, após aprovação do gabinete de segurança israelense, estabelecia três estágios: (1) cessar-fogo de seis semanas, (2) libertação de todos os reféns e detidos, e (3) retirada gradual das forças de ocupação, seguida por um plano de reconstrução financiado por doações internacionais.
Um ponto crucial era a criação de zonas desmilitarizadas dentro da Faixa de Gaza, supervisionadas por observadores da ONU. A proposta também incluía a abertura de corredores humanitários para levar ajuda alimentícia e medicamentos, algo que o Ministério da Saúde de Gaza descreveu como "um raio de esperança".
Ruptura e reação de Israel
Em 18 de março, o primeiro ataque aéreo inesperado foi lançado por Israel, alegando que o Hamas estaria atrasando a liberação dos últimos reféns. À noite, o escritório do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que as operações militares estavam "reiniciadas em plena força".
Segundo fonte do Ministério da Defesa israelense, centenas de mísseis foram disparados contra alvos que, segundo eles, "hospedavam infraestrutura militar do Hamas". O comunicado oficial justificou a ação como retaliação a uma suposta recusa do Hamas de cumprir cláusulas do acordo relacionadas à entrega de armas de destruição em massa que teriam sido encontradas em um armazém de Gaza.

Posição do Hamas após o fim do cessar-fogo
Com o cessar-fogo oficialmente quebrado, o Hamas passou a acusar Israel de "terrorismo de Estado" e reiterou que continuaria a lutar até que os objetivos de autonomia palestina fossem alcançados. Em declarações divulgadas pela Rádio Al‑Aqsa, líderes do grupo anunciaram a criação de comissões internas para "identificar e punir colaboracionistas" que teriam supostamente ajudado as forças israelenses durante a ruptura.
Entretanto, até o momento, detalhes concretos sobre prisões, julgamentos ou execuções de supostos colaboracionistas permanecem escassos. Analistas de segurança de Brookings Institution apontam que o Hamas pode estar usando a retórica contra colaboracionistas como estratégia de intimidação para fortalecer sua autoridade interna.
Implicações regionais e próximas etapas
O colapso do acordo tem reverberado em toda a região. O Egito, que mantém a fronteira de Rafah sob controle, alertou que um aumento de fluxo de refugiados poderia sobrecarregar seus recursos já limitados.
Catar, que havia prometido US$ 1 bilhão em ajuda à reconstrução, suspendeu temporariamente os pagamentos, aguardando clareza sobre quem controla efetivamente o território de Gaza. Enquanto isso, Washington reforçou sua posição, anunciando um aumento de US$ 500 milhões em assistência militar a Israel, o que gerou críticas de grupos de direitos humanos que pedem uma pausa imediata nos bombardeios.
Especialistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos advertem que a falta de um mecanismo de monitoramento robusto – algo que o Conselho de Segurança da ONU ainda não aprovou – pode levar a uma escalada incontrolável, arriscando envolver o Líbano e a Síria.

O que vem a seguir?
Até agora, não há indicações claras de novas rodadas de negociação. O Hamas insiste que qualquer futuro acordo deve incluir a retirada total das forças israelenses e garantias de autonomia política para Gaza. Por outro lado, o gabinete de Netanyahu parece focado em pressionar militarmente até que o Hamas aceite "um cessar-fogo permanente".
Para a população civil, a realidade permanece a mesma: escassez de água, eletricidade intermitente e medo constante de novos bombardeios. Organizações humanitárias internacionais solicitam acesso imediato aos hospitais de Gaza, que, segundo relatórios da Organização Mundial da Saúde, estão operando a 30% de sua capacidade.
Perguntas Frequentes
Como o cessar-fogo de 2025 impactou os reféns israelenses?
O acordo garantiu a libertação de cerca de 2.300 israelenses em oito rodadas de troca. Muitos retornaram às suas famílias, mas poucos foram submetidos a avaliações psicológicas adequadas devido à rapidez das trocas.
Quais foram as principais razões para a ruptura do cessar-fogo?
Israel alegou que o Hamas não cumpriu a liberação completa de armas e colaborou com grupos terroristas. O ataque de 18/03/2025 foi justificado como resposta a essa suposta não‑conformidade, embora analistas questionem a veracidade das acusações.
O que o Hamas tem feito contra supostos colaboracionistas?
O grupo declarou a formação de comissões internas para identificar e punir quem teria ajudado Israel. Até o momento, não há relatos confirmados de prisões ou julgamentos públicos, e o assunto ainda está envolto em rumores.
Qual é a postura dos principais mediadores – EUA, Egito e Catar?
Washington aumentou a ajuda militar a Israel, enquanto o Egito e o Catar suspenderam temporariamente seus compromissos de ajuda à reconstrução de Gaza, aguardando clareza sobre quem controla efetivamente o território.
Quais são os riscos de uma escalada maior na região?
Sem um mecanismo de monitoramento confiável, há risco de envolvimento do Líbano e Síria, aumento de refugiados e um agravamento da crise humanitária, que já deixa hospitais operando abaixo da metade da capacidade.
5 Comentários
Conforme os relatórios da ONU, o mecanismo de cessar‑fogo foi implementado com base em acordos multilaterais que exigem rigorosa observância dos parâmetros de segurança e monitoramento. A troca de prisioneiros, embora volumosa, seguiu protocolos de verificação cruzada que minimizaram incidentes de violação. É fundamental que a comunidade internacional reforce os instrumentos de diplomacia preventiva para evitar retrocessos. A análise de risco indica que a manutenção de zonas desmilitarizadas depende de vigilância contínua por observadores independentes. Em síntese, a estabilidade regional permanece condicionada ao cumprimento fiel dos compromissos firmados.
No contexto atual, há registros de falhas estruturais no processo de monitoramento!!! A lógica é simples: sem fiscalização, qualquer parte pode violar o pacto!!!
Ah, então a gente tem que confiar nos “observadores independentes” enquanto as bombas ainda caem, né? Cê acha que isso vai mudar alguma coisa? Nem parece.